Condolências à família
e amigos
Faleceu Manuel
Beja.
“Sei que muitos portugueses não estão a ter uma vida fácil na Suíça” “Não
creio que exista um futuro para o movimento associativo. O que vai existir são
grupos de interesses privados”.
Nota de pesar:
O Ex. mo Sr.
Manuel Beja, foi durante muitos anos o Conselheiro das Comunidades portuguesas
na Suíça… Presidente da Comissão dos Fluxos Migratórios do Conselho Comunidades
Portuguesas (CCP). De seu nome: Manuel Afonso Lourenço Beja. Natural de Alcobaça,
Leiria.
É com todo pesar
que vimos trazer a triste notícia do falecimento de nosso querido amigo. Ele
parte deixando-nos muitas lições de vida, amizade, associativismo,
profissionalismo, ética e humanidade.
Quelhas, Director, Revista Repórter X
O ARTIGO A SEGUIR É DE ADELINO SÁ -
GAZETA LUSOFONA
MANUEL BEJA vive (u) os
problemas da comunidade
“Sei que muitos portugueses não estão a ter uma vida fácil
na Suíça” “Não creio que exista um futuro para o movimento associativo. O que
vai existir são grupos de interesses privados”.
Mesmo afastado do mundo sindical, porque o Manuel Beja está
reformado, acompanha bem de perto os problemas da comunidade. O Manuel Beja foi
o primeiro sindicalista português e durante muitos anos foi uma voz ativa no
seio da comunidade portuguesa. Critico, um acérrimo defensor dos seus ideais e
dos valores que acredita que servem para que a sociedade seja melhor e mais
solidária. Mesmo afastado do Sindicato e do Conselho das Comunidades, continua
atento a tudo que diga respeito à comunidade portuguesa que vive na Suíça.
- Estás afastado das lides sindicais, dado que estás
reformado, mas acompanhas ainda os problemas da comunidade portuguesa?
Manuel Beja – Eu vivo os problemas da comunidade
portuguesa. Claro que acompanho à distância, mas com uma enorme preocupação. O
passado é passado, vivi uma situação que me deixou muito satisfeito aquando do
processo da integração da comunidade na Suíça, quando terminou o estatuto
sazonal, mas nos dias de hoje as coisas mudaram, infelizmente. Sinto que existe
uma maior precaridade nos dias de hoje, e muito pouca disponibilidade de as
pessoas colaborarem com o mundo associativo.
- O que é que mais te preocupa?
Manuel Beja – Bem, estou numa situação em que já entrei na
terceira fase da vida. Esta terceira fase da vida dá muito para pensar. Um dos
assuntos que realmente preocupa é a situação dos pensionistas portugueses.
Muitos gostariam de ir para Portugal gozar a sua reforma, muitas sem serem
valores elevados, mas muitos não o fazem, porque Portugal é pouco sensível e
fecha as portas a todas estas pessoas, que investiram uma vida no país, e que
estão sujeitos a uma carga fiscal desproporcionada a quem nunca fez nada, mesmo
nada, pelos seus filhos emigrantes. Portugal, para com os emigrantes, procedeu
sempre com uma política de hipocrisia e de cinismo. Concedem muitos benefícios
aos estrangeiros que desejam radicar-se em Portugal, mas ainda não encontraram
uma solução para os emigrantes reformados que desejam radicar-se em Portugal.
- Pensas que existe má vontade política?
Manuel Beja – Penso que há medo. Medo das pessoas, medo de
assumir uma posição e medo do poder do capital. Porque na realidade o problema,
como é o meu, dado que estou reformado e tenho a residência na Suíça, penso que
se poderia conseguir uma solução equilibrada e justa, porque Portugal nunca
contribuiu em nada para a minha situação e não é o país que me paga a minha
reforma. Porque as cargas fiscais que Portugal aplica a todos os cidadãos
portugueses, como é evidente, como a nós que um dia desejamos regressar em
definitivo, são taxas exageradas e desproporcionais a quem nunca contribuiu e
nada fez pelo nosso bem-estar. Seria aceitável Portugal encontrar uma taxa que
fosse ao encontro do que as pessoas pagariam nos países de acolhimento.
- Mas existe um decreto-lei que isenta os portugueses por
um período de 10 anos?
Manuel Beja – Conheço essa lei, sei que existe, mas, no
entanto, essa lei não é clara e não é totalmente abrangente e precisa. E não é
clara que se fique totalmente isento de impostos. Tem de haver uma política
clara e um decreto que vá direcionado apenas para os portugueses que viveram e
recebam reformas de um outro estado-membro, o que não é o caso. No meu caso,
com a minha reforma, eu pagaria uma taxa fiscal de 45% em Portugal. Na Suíça
pago 11%. Na minha situação existem milhares de portugueses, não só os que
trabalharam na Suíça, como aqueles da França, Alemanha, Luxemburgo e todos os
demais.
- Não será que se vive uma certa hipocrisia quando se evoca
a política da saudade, do investimento e, quando é para esclarecer e clarificar
uma situação, ninguém faz nada?
Manuel Beja – Sabes, o problema é que o Estado não tem
interesse em nos ouvir. Este problema já foi levantado há muitos anos, e até à
data ninguém nos quis ouvir. Nem querem. Sabes, eles evocam que todos os
portugueses têm de estar em pé de igualdade. Acho muito bem. Mas a verdade é
que estou fora de Portugal há mais de 40 anos e, se passar a minha morada
fiscal para lá, mais de um 1/3 da minha reforma vai para os cofres de Portugal,
tirando-me capacidade e alguma dignidade a uma qualidade de vida para qual eu
trabalhei num outro Estado, e que Portugal nunca contribuiu. Como tal, seria
mais justo encontrar uma taxa que fosse ao encontro do que se paga no país de
acolhimento. Eu investi algo em Portugal, mas muitos portugueses investiram
todo o seu suor na sua terra. E agora? Proporcionaram riqueza, proporcionaram
bem-estar pelos seus investimentos, muitos até substituíram o Estado português
ao ajudarem os seus familiares, e agora? Se recebes 3 mil, tens de deixar mil
aos cofres do Estado. Com este decreto-lei em vigor não vamos a lado nenhum.
Lusolivro - foto de arquivo
- Nunca a comunidade atingiu os números atuais, somos perto
de 280 mil na Suíça. Como vês esta evolução?
Manuel Beja – Apesar da livre circulação de pessoas, a
verdade é que sinto a comunidade muito mais insegura do que antes. No estatuto
sazonal, sabíamos que era um estatuto discriminatório, tinhas as suas regras,
mas sabíamos com o que poderíamos contar, neste momento estamos a viver uma
insegurança, porque muitas das pessoas vivem na precariedade dos trabalhos a
prazo e na dificuldade em encontrar o alojamento, que muitos por vezes não
podem pagar, porque não têm um posto de trabalho estável. Depois, os ditos
trabalhos à hora, em que os patrões se servem da disponibilidade destas
pessoas, que ficam reféns de as chamaram ou não. Estou a falar do setor das
limpezas, como exemplo. Existem outros. Como tal, existe uma precariedade e sei
que muitas pessoas vivem com extrema dificuldade, até porque o preço dos
alojamentos, o aluguer das casas, estão por preços exorbitantes, depois ainda
se tem de somar o seguro médico. Sei que muitos portugueses não estão a ter uma
vida fácil na Suíça. Tudo isto é um problema acrescido para uma plena
integração das famílias portuguesas na Suíça. Também é verdade que a comunidade
não se mobiliza como há uns anos. Por muito que se possa apontar o dedo aos
Sindicatos, falo de todos os Sindicatos, as pessoas devem acreditar no trabalho
destes, porque se muito foi conseguido nos últimos anos, estou a falar, por
exemplo, no setor da hotelaria, da construção, este último com a reforma
antecipada, aos 60 anos, uma grande vitória sindical, o setor das limpezas que
tem agora um contrato coletivo, fraco, mas existe uma base de trabalho, tudo
isso foi conseguido com o movimento Sindical. Se as pessoas que chegam agora à
Suíça encontram algumas regras e benefícios, mas claro está que muito ainda se
pode fazer, foi graças aos Sindicatos, e muitas delas agora afastam-se, o que é
uma pena e uma injustiça pelo trabalho realizado. Claro que sei que há falhas,
mas temos de ver o que de bom foi conseguido graças ao trabalho Sindical. E uma
base de apoio e de mobilização passa pelos Sindicatos.
- E o movimento Associativo?
Manuel Beja – Está moribundo e em fase de desaparecer. Esta
é a realidade. Muito poucas coletividades respeitam os valores associativos.
Futuro? Não creio que exista um futuro para o movimento associativo. O que vai
existir são grupos de interesses privados.
NOTA BREVE:
Manuel Beja esteve
presente no lançamento dos meus livros `Quelhas´: “O Livro da Criança e
Terra das Marias da Fonte”. Esteve ainda nos Serões Culturais. Tivemos
alguns encontros no qual reunimos para falar sobre a Comunidade. Participou
algumas vezes na Revista Repórter X.
(Já conhecia o Manuel
Beja, mesmo antes de emigrar para a Suíça).
Em agradecimento
fiz-lhe um Blogue, que agora vou tentar remodelar em honra de Manuel Beja,
homem, que fica para a história da Comunidade Portuguesa na Suíça.
“Divulgar a língua e
cultura portuguesa fora de Portugal é sempre de louvar.
É bom que os nossos
escritores se aproximem mais das comunidades.
Esse elo de ligação deseja-se
se queremos colocar a nossa língua no plano que ela merece estar no mundo.
Obrigado João Carlos
Veloso por esta passagem em Zurique.
Manuel Beja –
Conselheiro das comunidades portuguesas na Suíça
Zurique O8-12-2007”
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